quinta-feira, 11 de junho de 2020

Confira a entrevista exclusiva que a farmacêutica Gabriela Abascal concedeu a imprensa regional


 
 
A farmacêutica-bioquímica Gabriela Coradini Abascal, 43 anos, é mais uma das milhares de profissionais de saúde do Brasil que foram infectadas pelo coronavírus. Ela é sócia-proprietária de um laboratório de Caçapava do Sul e, durante a pandemia, atuava em regime de plantão no Hospital de Caridade Dr. Victor Lang, realizando exames clínicos em pacientes com suspeita de coronavírus, como prestadora de serviços. Após um colega apresentar sintomas da doença, Gabriela resolveu fazer o teste e, em 29 de maio, foi diagnosticada com o vírus, por teste RT-PCR. Desde então, como é a rotina dela? Como é lidar, na rotina de trabalho, com pacientes infectados? Quais são os sentimentos gerados diante da exposição permanente? Esses são alguns dos assuntos abordados pela bioquímica em entrevista ao Diário.
Diário - Como você imagina que tenha contraído o vírus?Gabriela Coradini Abascal - Pergunta bem difícil. Todo lugar pode ser perigoso. Trabalhei na área de pacientes infectados e posso ter me contaminado lá, mas não tem como afirmar com certeza.

Diário - O que sentiu ao receber a notícia?Gabriela - O medo é o companheiro fiel do diagnosticado com Covid-19. Como profissionais da saúde, temos muitas informações sobre a doença. E ainda há muito o que ser descoberto sobre ela. Quando o resultado chegou, eu já estava com sintomas característicos e não foi uma surpresa. O sentimento que mais incomoda o profissional da saúde infectado é o de ter a possibilidade de contaminar mais alguém.
Diário - E quanto ao isolamento?Gabriela - São dias longos. Tenho febre e dor no corpo. Não consigo fixar o pensamento em leituras ou vídeos. Então, os dias demoram para passar. Meu marido, Luiz Felipe Bortolotto de Oliveira, está comigo. Até este momento, ele não tem sintomas. Estamos respeitando o isolamento, mas conseguimos conviver bem, de certa forma. Isto é fundamental. Sem ele, seria bem ruim. Outro alento, são as chamadas de vídeo com meus pais, filhos, minha irmã grávida, outros familiares, equipe de trabalho e as milhares de mensagens que recebo de todo o mundo nas redes sociais. Na minha porta, chegam flores, bolos, cartas e já me homenagearam até por meio de um trova gaúcha. É fantástico. Carinho é a melhor medicação.
Diário - Você se sentia mais exposta ao vírus, por ser profissional da saúde ?Gabriela - Certamente, somos mais expostos ao risco. Mas eu brinco com meus conhecidos que é por isso que recebemos insalubridade.
Na verdade, quem trabalha com pacientes com coronavírus precisa estar alerta. Esse aviso é válido para atividades como serviços gerais e motoristas, que não são lembrados como "da saúde", mas se arriscam também.
Diário - Você decidiu fazer vídeos para dar notícias da própria saúde. Qual foi a motivação?Gabriela - Os vídeos foram uma forma que encontrei para desmentir boatos e passar as notícias do dia. Outro mal da pandemia são os boatos e julgamentos. As notícias falam bastante em pacientes assintomáticos e em estado grave. Há uma multidão entre esses dois extremos. Se as pessoas escutarem as notícias sobre a minha saúde diretamente de mim, terão segurança a respeito do que é dito e, desta forma, acabam-se os comentários.  
Diário - Durante o isolamento, quais foram os piores sintomas?Gabriela - A febre, dor no corpo, cansaço com pequenos esforços. Perdi o olfato, mas, aos poucos, voltou.
Diário - Qual o recado que você deixa sobre a Covid-19 para a população?Gabriela - Quando tudo passar, teremos conhecidos que sofreram e perderam pessoas. Perderemos até empresas. Mas se soubermos nos ajudar, não perderemos a dignidade humana. Respeitem as regras impostas, usem máscaras, façam higiene respiratória em casa, lavem as mãos. Tudo vai passar.
Diário - Como farmacêutica bioquímica, de que forma você compreende essa pandemia?Gabriela - A pandemia é uma oportunidade de atualização e nos tira da zona de conforto, nos obriga a repensar alguns aspectos. O profissional da saúde que não está lendo muito sobre o assunto, não está vivendo a pandemia da forma correta. O Brasil tem pontos positivos no enfrentamento ao vírus, como a organização do Sistema Único de Saúde (SUS) e a abrangência desse modelo no território nacional. Nos pequenos municípios, vemos profissionais e empresas do setor privado atuando lado a lado com o setor público. Desde março, quando as infecções começaram no país, o que eu mais sinto falta nesse período é de lideranças. Gostaria de ouvir pessoas acima de nós dizerem com clareza que estão trabalhando para tudo isso passe. Que nos digam que atuam no objetivo de proteger a todos, especialmente, os mais vulneráveis.
Reportagem: Diário de Santa Maria
*Colaborou Rafael Favero

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