Fonte: Jornal do Pampa
O Cemitério Municipal foi assunto na última sessão plenária da Câmara de Vereadores, quando Marquinho Vivian (PMDB) apresentou um pedido de informação solicitando cópia dos ofícios ou autorizações da Secretaria de Assistência Social referente a liberação de túmulos nº 102, 77 e 1136 no Cemitério Municipal por parte da secretaria bem como documentação relativa a estes túmulos arquivadas na Secretaria de Obras.
O Cemitério Municipal foi assunto na última sessão plenária da Câmara de Vereadores, quando Marquinho Vivian (PMDB) apresentou um pedido de informação solicitando cópia dos ofícios ou autorizações da Secretaria de Assistência Social referente a liberação de túmulos nº 102, 77 e 1136 no Cemitério Municipal por parte da secretaria bem como documentação relativa a estes túmulos arquivadas na Secretaria de Obras.
Em sua fala, Marquinho afirmou que irá aguardar o prazo de
30 dias que o Executivo tem enviar a resposta ao Legislativo, para depois
voltar a se manifestar, mas ele destacou que recebeu denúncias e o caso é
grave. “Não quero acreditar nisso, mas já não duvido de mais nada. A denúncia
que recebemos é que estão tirando os mortos das gavetas, sem comunicar as
famílias para poder enterrar mais gente. Existem documentos da Assistência
Social para o Cemitério, para fazer a remoção, sem comunicar os familiares que
ali estão. Vamos aguardar estas informações e respostas. Até então o Cemitério
é de responsabilidade da Secretaria de Obras. É um assunto delicado e
preocupante, existem relatos, está comprovado, vamos aguardar os ofícios e
depois voltar neste assunto”.
O Cemitério Municipal conta com aproximadamente 400 gavetas,
destas 154 são utilizadas pelo município para aluguel, nove são destinadas para
indigentes e 20 são de propriedade do asilo. Todas as gavetas estão ocupadas.
As gavetas destinadas aos indigentes, possuem uma identificação, com uma tinta
azul que diz “IND”, porém em algumas destas que estão marcadas há até lápide,
com foto, nome, data de nascimento e morte da pessoa.
O local conta com o serviço de limpeza e conservação que é
exercido por três zeladores e um chefe da zeladoria, Jocenir da Rosa, que
atualmente está afastado por motivos de saúde, por tempo indeterminado.
Sobre o caso, os zeladores afirmam que foram feitas trocas
nas gavetas e as famílias não foram avisadas, eles confirmam que o documento
teve origem da Secretaria de Assistência Social solicitando que fossem feitos
os enterros. No documento não consta número de gaveta que seria aberta. “Em 15
dias, três gavetas foram mexidas. A nosso ver, é preciso chamar a família, se
não achou é só usar o rádio, o jornal, ou até mesmo a Câmara de Vereadores para
aprovar a exumação. Não se pode mexer nas gavetas. Isso, na verdade, foi uma
violação de túmulo, não notificaram as famílias, nenhuma mídia chamou, não foi
feita uma busca na Secretaria da Fazenda para ver a situação que estava. Não
sabemos qual foi o critério utilizado para abrir aquelas gavetas”.
“Se falarem que nós nos recusamos a fazer este serviço, nós
nos recusamos mesmo. Violação de túmulo não é com nós. Se eles falarem que nós
não ajudamos, não ajudamos mesmo. Não fomos nem olhar. Não é da nossa função,
mas nós fazemos os enterros, para que tudo esteja funcionando no cemitério e
não gerar atritos”, ponderando que são zeladores e não coveiros. “Nós
continuamos fazendo os enterros, porque as famílias quando chegam aqui precisam
e não tem culpa de nada, portanto mantemos em ordem os serviços que chegam
aqui”.
Sobre as atribuições dos zeladores, consta no plano de
carreira “promover a limpeza e conservação dos cemitérios municipais”, seguido
de “promover o alinhamento e numeração das sepulturas e de signar lugares onde
se devam abrir novas covas; manter o registro das sepulturas, registrado em
livro próprio; realizar sepultamentos abrindo e fechando covas e túmulos;
proceder a limpeza e conservação do mesmo; e atividades afins”. O Secretário de
Obras, Paulo Henriques, destaca que atividades como exumação se enquadra nesta
última.
Sobre os funerais de indigentes, os zeladores comentam que a
ordem de serviço parte da Secretaria de Assistência Social, que é responsável
pelos cadastros de pessoas carentes e também pela busca de familiares, no caso,
quando a pessoa morre e não tem nenhuma identificação.
O chefe da zeladoria, Jocenir da Rosa falou sobre os
projetos de melhorias no Cemitério Municipal. “Serão colocadas câmeras, o
vandalismo caiu 90% e a população voltou a ter o direito de chegar no que é
seu. O saneamento do entorno foi reformado e também há um projeto de
arborização”. Sobre as aberturas das gavetas, Rosa conta que os corpos que
estavam na gaveta, foram realocados em um saco e as gavetas ficaram
compartilhadas.
“As gavetas foram abertas, conforme a ordem de serviço e o
espaço está compartilhado, os restos mortais estão no mesmo local, na mesma
gaveta. Não foi retirado dali, o espaço apenas foi dividido. A consciência está
tranquila, tudo foi feito conforme ordem de serviço e documentos”, afirmou o
chefe da zeladoria, que comentou ainda que os servidores possuem todo o
equipamento necessário para trabalhar. “Os servidores têm a sua disposição todo
o equipamento necessário: luva, álcool, repelente, kit de primeiros socorros e
roupas adequadas para dia de chuva”.
O Secretário de Obras, afirmou que o serviço no Cemitério
Municipal não foi interrompido e tudo está correndo dentro da normalidade. A
cada três anos os familiares tem uma taxa para pagar, porém a Secretaria de
Obras não tem um controle do que está pago e da inadimplência. Os pagamentos
são feitos na Secretaria da Fazenda. “A Secretaria de Obras entende que a
pessoa que alugou uma gaveta, tem o compromisso de procurar e fazer o
pagamento, porque a pessoa tem ciência do custo, inclusive fica uma dívida
ativa no município”, afirmou Henriques.
“A Secretaria de Obras tem um controle com datas de
vencimento, quando vence os três anos, mas a pessoa não recebe nenhum tipo de
notificação, boleto ou carta. Será feito um recadastramento e um mapeamento de
todo o cemitério”, disse o chefe da zeladoria.
As taxas que envolvem o Cemitério Municipal são: aluguel de
gavetas R$ 48,60 a cada três anos; abertura e fechamento R$ 32,30; remoção
entrada e retirada R$ 26,20; licença para construção de capela R$ 48,60;
perpetuidade (m²) R$ 163,70.
Sobre a indicação de aumentar o número de gavetas,
apresentado pelo vereador Ricardo Rosso, o secretário de obras afirmou que é
preciso fazer um estudo devido a estrutura do local.
“Quando é caso de indigente é a Assistência Social que é
encarregada. Todo o procedimento de capela, gaveta e sepultamento é com a outra
secretaria”, explica o Secretário de Obras que acrescenta que a capela, cozinha
e banheiros do Cemitério também são de responsabilidade da Assistência Social.
Sobre o caso das três gavetas, Henriques salienta que a ordem de serviço partiu
da Assistência Social. “Está tudo documentado, conforme a lei”.
A Secretária de Assistência Social, Maria Teresa Macedo,
explicou que “indigente” é aquela pessoa que não tem condições que está em
situação de vulnerabilidade, não é carente. “Foi o caso dos últimos três que
faleceram. Quando não se tem condições, e isso é comprovado através dos
cadastros, o município enterra. Em alguns casos a família aparece depois,
porque fazemos um trabalho de busca ativa”.
Maria Teresa afirmou ainda que o município tem poucos
lugares e todas as gavetas estão ocupadas. “Quando acontece um caso de morte de
indigente, a primeira coisa que fazemos é buscar a família, entra-se em contato
com o Cemitério, sendo que tudo é documentado, para os procedimentos
funerários, e depois continua a busca pelos familiares”, explica.
Sobre violação de túmulos, a secretária afirma que os três
casos não configuram isso. “Foi um procedimento normal. Passando o tempo
necessário, é preciso juntar e compartilhar o espaço, que é limitado”. Sobre as
gavetas que foram mexidas a secretária disse que os familiares não foram
encontrados. “Muitas vezes a família também não busca”.
A Secretaria de Assistência Social não divulgou os nomes dos
corpos que estavam nas gavetas e nem dos que foram colocados no local.
O promotor de justiça de Caçapava do Sul, Diogo Taborda,
afirmou que o Ministério Público irá abrir investigação para uma análise do
fato e uma análise jurídica deste fato para ver se existe a responsabilidade de
alguém no caso. “Em tese pode haver improbidade administrativa e pode ter
crime, mas em tese, por isso será aberta a investigação, para analisar as
circunstâncias do fato e as jurídicas para verificar se existe algum ato
ilegal, e se for o caso, buscar sua responsabilização. Como há indícios de
ilicitude, o Ministério Público tem o dever de investigar”.
O que diz a lei
Os artigos 210 e 211 do Código Penal tratam do crime de
violação de sepultura e delito de destruição, subtração ou ocultação de
cadáver. No art. 210 também, protege-se o sentimento de respeito pelos mortos.
Com relação ao objeto material, a lei faz menção a sepultura ou urna funerária.
Tal delito consuma-se com a violação ou profanação de sepultura ou urna
funerária. Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Já o art.
211 do Código Penal tem como pena a reclusão de um a três anos e multa. O
cadáver ou parte dele é o objeto material de tal delito. Consuma-se o crime com
a destruição total ou parcial do cadáver. Trata-se de crime de ação penal
pública incondicionada.
Por Carol Petrin – MTE 17.708/RS
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